top of page
  • Foto do escritorLívia Santana Carvalho

Fama e Anonimato: conheça Nova York através de múltiplas faces

Atualizado: 2 de fev. de 2021

Nome do livro: Fama e Anonimato

Autor: Gay Talese

Editora: Companhia das letras. Segunda edição, 2004. Coleção jornalismo literário

Número de páginas: 536 páginas

Divisão de capítulos: prefácio+3 partes+ apêndice+posfácio

Destino: Nova York. É iniciado o embarque. Se você deseja viajar folheando as páginas dessa obra, verá que esse sucesso do New Journalism, ou Jornalismo Literário, desvenda fidedignamente a famosa cidade americana, mas sob outras perspectivas.


O livro é uma coletânea de artigos escritos pelo jornalista Gay Talese para as páginas do The New York Times e a revista Esquire na década de 60. Os ensaios eram sobre pessoas anônimas de Nova York, celebridades e acontecimentos bizarros que, segundo o próprio autor, o seduziram durante suas andanças pela cidade. Entre os mais famosos, “Frank Sinatra has a cold” (Frank Sinatra está resfriado) está na terceira parte do livro. A primeira versão da obra foi lançada no Brasil em 1973, sob o título Aos Olhos da Multidão.


Para compor a obra, o autor norte-americano dedica seu olhar disciplinado à ciência das peculiaridades humanas. Melhor dizendo, através dos distritos, torres, pontes, até às celebridades; para a construção da narrativa é necessário personificarmos a figura de um serendipitoso (adjetivo referente àquele que descobre fatos por acaso), para observarmos as peculiaridades presentes na cidade.


Chegamos à primeira parada. Na primeira parte da obra, o leitor logo percebe que o livro é uma materialização do modo como figuras banais enxergam a cidade. Sendo assim, porteiros, ascensoristas e manequins de sentinela, encontrados facilmente em qualquer canto da Broadway ou da Quinta Avenida, são tesouros para um ambicioso que anseia conhecer de fato o lugar em que vive e as pessoas que protagonizam a cidade que “nunca dorme”.


Dessa forma, Talese comprova ser o melhor guia para a viagem. Sob relatos detalhados, revela que é estabelecida a calmaria das ruas nova-iorquinas por um tempo; relaciona as mudanças climáticas e de humor da população e delimita qualquer perfil.


O leitor fica surpreso com o fato de cada observação ser justificada por dados e é fascinante como o grande acervo de informações é transmitido através de uma leitura fácil e interessante, evidenciando o sucesso da obra.


Nova York é renomeada inúmeras vezes: “cidade esquizofrênica” para a modelo, “suja” para os lavadores de janelas, “frustrante” para gerentes de hotel; de gigantes a mergulhadores das águas do rio East, conhecemos as histórias mais profundas da cidade.


Na segunda parada, no capítulo “A Ponte”, a descrição minuciosa é mais chamativa. Os boomers, como são denominados aqueles que trabalham na construção da ponte Verrazano-Narrows, são descritos pela cor da pele e problemas de audição por martelar rebites. Sendo assim, é fácil identificar os trabalhadores que dedicam seus dias a olharem Nova York por um ângulo diferente.


O terror à altura não impede alguns deles de trabalhar. Assim como a situação angustiante daqueles que tiveram suas casas demolidas para possibilitar a construção. Fato que me gerou empatia e questionamento em relação ao posicionamento do autor sobre a construção da ponte.


Florence Campbell é uma das vítimas a quem Talese deu oportunidade de expressar a indignação. Chamou-me a atenção o fato dele tratar igualitariamente todos os relatos, atribuindo o devido espaço e atenção, o que confere valor documental ao livro.


Por ser extensa, não me interessei tanto como na primeira parte. Já que o assunto é sobre histórias nas construções e é bastante detalhado, pessoalmente não me gerou entusiasmo. Apesar disso, é uma excelente e intensa abordagem.


Já na última parte da nossa viagem, “Excursão ao Interior”, o cantor Frank Sinatra está com a voz calada. Não porque havia falecido ou sido autoritariamente silenciado, mas porque estava doente, com a voz debilitada. Assim, inicia-se uma das reportagens mais famosas de Talese: “Frank Sinatra está resfriado”.


O que chama a atenção é o fato de Talese construí-la apenas por observar Sinatra em seu cotidiano e entrevistar pessoas próximas ao cantor. O resultado final? Escreve mais que uma reportagem, mas um perfil denso e detalhado de Sinatra!


É iniciada a narrativa, e logo, os conflitos. Um deles, em um clube da California. Há um entusiasmo incessante em mim. Os diálogos marcados por insultos e uma linguagem fiel ao uso de palavrões deixam a leitura mais empolgante. Rapidamente conhecemos a personalidade não-amigável de Sinatra, apesar do autor deixar claro desde o início a existência do lado cativante e generoso de Frank. Considerado um verdadeiro “homem de respeito”.


Fiel, sentimental e visível. A personalidade forte de Sinatra possibilitou que seu especial de uma hora na NBC: “Um Homem e Sua Música”, fosse uma das experiências mais desafiadoras para os que estavam ali, possibilitando acontecer o show naquela noite. Tudo por conta desse terrível contratempo que Sinatra estava condicionado.


Assim que lia me questionava sobre o episódio: será esse o pior lado da vida de Sinatra? Seria esse o lado ruim de ser a maior sensação da época?


No geral, conhecemos a equipe que trabalha com ele e que está sempre ao seu redor; diferentemente da família, que demonstra seu afeto apenas ao falar sobre o cantor. A vida amorosa é contada de forma simples, mas encantadora; muitas vezes, com trechos de canções de Sinatra como “Nancy”. Apesar disso, gosta de ficar sozinho, mas não solitário.


Para engrandecer a narrativa, no apêndice do livro o autor complementa a reportagem com: Como não entrevistar Frank Sinatra; em que dá detalhes sobre a produção, critica moldes do jornalismo, bem como a denominação New Journalism.


Além de Sinatra, outras personalidades marcantes da época são destacadas, como o jogador de beisebol Joe DiMaggio, o ator Peter O’toole e as garotas da capa da revista Vogue. Assim, a narrativa vai se encaminhando para o fim, evidenciando organização e uma estruturação bem elaborada.


Essa obra da nova não-ficção, é um excelente referencial para praticarmos nossa visão. Enxergue através das palavras; treine seu olhar! E assim, encontre uma nova pessoa, um novo lugar! Assim, partimos de Nova York e desembarcamos dessa jornada. O passaporte é carimbado ao compasso que Fama e Anonimato, assim como uma viagem, permanece sendo lembrado.


Por: Lívia Santana Carvalho, estudante de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero.

 

Clique aqui para conferir a matéria publicada!

6 visualizações0 comentário
bottom of page